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APRESENTAÇÃO:SÃO JOANICO é a minha terra. Embora pouco tenha vivido nela, foi aqui que eu nasci. É daqui que eu guardo as minhas primeiras recordações: dos lugares, das coisas, dos acontecimentos, dos usos e costumes e, sobretudo, das pessoas pelas quais fui sempre muito bem recebido e estimado.Pela minha ausência, talvez não seja o filho mais capacitado para estar ao leme desta navegação internetária.Ao navegar por outros portos, bem por perto, notei, com mágoa, a ausência dum cais no rio que te divide, S.Joanico, e junto da ponte que te une, onde possam aportar os que daqui partiram e os que furtivamente por ele passem.É este o meu gesto de gratidão. ´E esta a minha exclamação de admiração!...Fica aberto este cais. Saúdo e dou as boas vindas a todos os que a ele aportarem, quer virtualmente, quer, sobretudo, com a sua real presença.O leme fica igualmente disponível a outros timoneiros que queiram mostrar e acompanhar, em visita guiada, a nossa querida Terra S. Joanico.Para tais visitas, quer os seus habitantes, quer os que têm o mandato de velar pelo ambiente, pelo património e pela sua preservação, conservação e restauro, têm obra importante e urgente a deitar mãos..Aqui se levanta o primeiro arco estimulante para a ponte que é preciso erguer para ultrapassar o rio dasdificuldades...São Joanico é uma pequena aldeia do distrito de Bragança, situada a cinco quilómetros, a nordeste do seu concelho, Vimioso. Corre-lhe no meio o Rio Angueira, cujas margens são unidas pela que Chamam a Ponte de São Joanico, bem presente na inspiração popular: “ A Ponte de São Joanico tem vinte e cinco olhais/ Aqui está quem os contou/ Tem cinco e não tem mais.” É uma ponte quase milenar, medieval - Romana, “integrada no caminho velho que de Angueira se dirigia para Vimioso”. Foi reconstruída em 1778, sofrendo uma intervenção realizada pela CMV em 1994-obras de reparação da ponte, que apesar destas se encontra descaracterizada, alterada, degradada..O que podia ser um lindo e histórico cartão de visita transforma-se assim num vergonhoso" muro de lamentações “ ... Presentemente, uma ponte nova, a cem metros a montante, veio aliviar o trânsito rodoviário desviando-o da aldeia, quando não se precisa de passar por ela. Além deste, outros monumentos são de salientar: a igreja, do século XVIII, cujo retábulo do altar - mor de 1787 se deve ao escultor José Fernandes de S. Martinho de Angueira; dois cruzeiros, um de cada margem; um chafariz, cujo exemplar me parece único no Concelho e uma fonte de mergulho Aqueles bem mereciam melhor enquadramento; aquele e esta, restauro e condigna apresentação... Outros monumentos, ainda mais antigos que a ponte, são a água que S. Joanico bebe e a que lhe corre no coração. Quanto à primeira, refiro-me à excelente água que directamente da nascente, na colina, a que a aldeia se encosta e se distende, lhe corre naturalmente, cristalina e fresca, para as suas casas. Quanto à segunda, saliento a Ribeira, abundante em peixe: o bárbaro, a boga, o escalo, a tenca, a sharda e, em tempos que já lá vão, a truta, a enguia, o lagostim de patas brancas (carangueijo, localmente assim dsesignado) e as lapas; estes dois últimos, iguarias que nós desprezávamos ou ocasionalmente debicávamos, enquanto, em conta partida, os nossos vizinhos espanhóis levavam às sacadas para os seus restaurantes, contribuindo também para o seu total desaparecimento. Felizmente, e parabéns, que já está em acção um projecto de repovoamento.
Teve o seu berço, segundo o Abade Baçal, numa quinta que daquele lado da Ribeira “houve” a que se lhe deu por nome de S. Joane, a propagação de vizinhos aumentou de “hua e outra parte que chegou a ter Igreja matriz e a poucos anos sacrário”.( De que lado da Ribeira? Onde ficava essa igreja?) Uma metade fez parte da venda ao mosteiro de S.Martinho da Castanheira, Sanábria (Espanha), em 1217, por Paio Fernandes, “metade das aldeias de Caçarelhos, São Joanico e Genísio”. Povoamento e colonização O mesmo mosteiro povoou e colonizou São Joanico, no reinado de D. Sancho II, juntamente com S. Martinho de Angueira, Caçarelhos e Especiosa.
A Freguesia: Quer S: Joanico, quer Serapicos já foram, como vimos, freguesias, passando depois a pertencer à Freguesia de Vale de Frades. AS TRADIÇÕES – São, praticamente, as mesmas das outras aldeias do Concelho. Por causas óbvias, perderam-se quase todas. A começar, há já muitos anos, o falar mirandês. O tom do seu modo de falar, que também está a perder, bem denuncia o concelho a que pertence; aquilo a que chamam o falar à “bileira”; os ditongos em “ais” têm um som intermédio com o em “ois”; por exemplo “ para onde vais “ parece ter o som de “ois”, “p,ra onde “bois”; o mesmo se passa com outros ditongos e alguns sons vocálicos. Não sei se infelizmente, o próprio Vimioso já quase não fala também assim. A dança dos pauliteiros, ao som da gaita – de – foles, da caixa, do bombo e dos ferrinhos que tanto animava e abrilhantava a festa de S. João, também já pertence ao passado. Pelo Natal, também se cantavam os Reis, quando esta festividade chegava. No Entrudo, além das mascaradas comuns, apregoavam-se os mais originais e não sei mesmo se os mais acertados casamentos. Os funis, os regadores e sobretudo a parte dos cântaros junto ao gargalo eram, à época, os melhores altifalantes. Era mais ou menos assim: dois “maduros”, regra geral acompanhados de outros, colocavam-se à distância e apregoavam: “Vamos casar”. “ E quem?” “Fulano(a).....”E com quem vem a ser?”_ “Vai a ser...vai a ser... com....(dizia-se o nome), após o que se terminava às gargalhadas:”grá....grá...grá...” Saliente-se ainda dois hábitos, também, em geral, presentes nas outras aldeias, felizmente desaparecidos: um, o de mendigos ou pobres que andavam de terra em terra, pernoitando em casas, regra geral, já certas. Destes, destaco a humildade, a dedicação e o espírito de serviço, pedindo sempre para fazer qualquer coisa, como partir lenha, ir à fonte... Tinham também o hábito de ir de porta em porta, e aí rezar, depois de tirar o chapéu, pelas “ benditas almas” e pelas “obrigações” da casa onde pediam. Havia outros pedintes – os ciganos - cujo relacionamento de parte a parte já não era tão bom, bem pelo contrário... Estes, sobretudo as crianças, tinham, por vezes, um gesto, até de ternura, que não era de oração mas artístico, de troca: “dê-me uma codinha e danço!...” E as pessoas até davam e achavam-lhe graça...Havia também a outra face oposta: a da maldição, a da imprecação, na retirada, quando não se dava: “uma loba te nasça maldita....” Era dita, evidentemente, sem intenção e recebida sem indignação; tanto assim era, que as pessoas, por brincadeira, repetiam esta e a expressão anterior, umas às outras...
Já se acabou a comida," Não têm senão desculpar, Esperem um bocadinho, Para vos dar o jantar.
Presunto e chouriços não temos Que se morreram os porcos no Verão; Nem batatas tão pouco Que se gelaram no montão.
Também vos dava uma pinga, ,Inda tenho as pipas atestadas; Os que colheram tanto como eu Já as têm bem despejadas.
Com sede ninguém se vá; Seria uma grande asneira; Pois quem não gostar de vinho Que beba água na nossa Ribeira" Nesta arte, realização, ensaio e até autoria, é de salientar o grande esforço e até paixão do tão conhecido, popular e animador quer cultural, quer religioso e social, o saudoso tio José Ventura. JOGOS TRADICIONAIS do ferro ou da pedra ( com umas dezenas de Kilos), jogados por entre as pernas ou de lado e projectando aqueles a maior distância possível; do fito ou Cunca ou malha que, regra geral, se jogavam junto à ribeira do lado de cima da ponte, sempre no mesmo local, sendo bem visíveis as covas, onde as pedras caíam e resvalavam para deitar abaixo o meco ou marco. GASTRONOMIA – Como nas Tradições, é a mesma em quase todo o Concelho.“ Das carnes o carneiro/ Das aves a perdiz/ E, sobretudo, a coderniz/ Mas se o porco voara,/Não havia carne que lhe chegara.” (Adágio popular)“Coitado, ficou como quem não mata porco”(adágio popular)“Outros sabores “constituem pitéu que não receia confrontos com os mundiais mais afamados” Ab. Baçal. As especialidades aparecem de acorde com as épocas festivas. Destaco os chamados económicos, o pão-de-ló, o folar, na Páscoa, de ovos e de carne; das carnes, os tradicionais e típicos enchidos: chouriços, chouriças, o salpicão, o toucinho, o presunto consumidos durante o ano; o botelo, os chavianos, com e sem mel, as tabafeias (alheiras), os rijões, também com e sem mel, próprios do tempo natalício, até ao Entrudo. Todavia, o mais típico e característico, são os peixinhos da Ribeira, servidos com simpatia e requinte no Café Lagostim, pescados na hora, se houver pré-aviso. Seja-me permitido salientar as”tabafeias”- alheiras – questionando-me sobre o local onde seria cortado o primeiro barão donde se penduraram as primeiras. Não seria nos freixos de CABANAS?... PESSOAS TÍPICAS - Todas as terras têm alguns dos seus habitantes que se notabilizam pelas suas característica próprias, que se afastam do viver paradigmático comum, que têm alguma qualidade, virtude ou defeito físico, moral, social... e que, apesar disso, ou talvez por isso mesmo, são aceites, estimadas por todos, sem todavia, fugirem à crítica, aos reparos , aos comentários da praça pública. S. Joanico não foge à regra. Aliás, o Concelho com as aldeias que o constituem, também fazem parte desta regra, apodando quer aquele, quer cada uma destas por uma alcunha, regra geral, relacionadas com uma actividade. Apenas uma, entre tantas, a que se relaciona com S.Joanico: De Avelanoso os carvoeiros E de Serapicos os raticos; De São Joanico os sapateiros E de Vilar Seco os, scrinheiros(7). (Memórias de Vimioso, Abade Baçal) ARTESANATO, Artes e Ofícios. Presentemente, não há nada de especial mas, no passado, já bastante remoto, as pessoas bastavam-se a si mesmas nas artes e Ofícios, como aliás acontecia também nas outras aldeias. Havia ferreiros, carpinteiros, sapateiros, barbeiros, alfaiates, pedreiros, latoeiros, serradores, ferradores, costureiras, taberna. Regra geral, todas as famílias faziam o pão em casa. Na Vila, apenas compravam algumas roupas e a mercearia. A matança do porco da maioria das pessoas, dava-lhe a carne para todo o ano, bem como a criação de coelhos e aves de capoeira; para ocasiões mais festivas, a vitela, o cabrito, o borrego...Aquela era para as famílias, amigos, vizinhos e amigos, vindos até de outras terras, um dia de festa e de convívio que se prolongava pelo Inverno dentro, na retribuição do convite pelo mesmo motivo. A praça do peixe tinha assento no meio da aldeia, mas apenas para alguns amadores da pesca, à cana e à rede...A sardinha batia-nos à porta trazida, regra geral por vendedores da Vila, chegando muitas famílias a comprar às caixas. As peles dos animais, do coelho, da cabra e da ovelha, sobretudo, eram vendidas à porta, aos “peliqueiros” ou “argoseleiros,”, vindos de Argoselo - "Surradores de Argoselo"... que, pelas ruas, em cima dos seus cavalos, ou puxando - os pela reata, apregoavam numa voz grossa e cavernosa e com sotaque ou som característico da terra, que outros povos, por e com graça imitavam: “peles e carniçoilos”. (Estes são um fungo, de forma córnea, que o centeio gera na espiga e que eram vendidos a bom preço. Deles se extrai uma substância usada na preparação dos curtumes, como preservante ou neutralizante do elemento proteico). O azeite era comprado aos azeiteiros de Carção , que à semelhança dos seus vizinhos andavam também pelas ruas. A roupa, sobretudo para homem, em cortes ou ao metro, a que se chamava pana ou bombazinea vinha-nos de Espanha, comprada, secretamente, por causa da Guarda Fiscal e dos Carabineiros, aos contrabandistas, que, depois, era trabalhada pelos nossos alfaiates. Também os “cacharros”, as alpercatas, as malgas, as canecas, os pratos de barro e as boinas ou gorras ou cachuchas.. Em contrapartida, levavam ovos e trapos... Os contrabandistas, também eles pobres e sofridos, puseram muita mesa, vestiram e calçaram muito pobre, também... (História que ainda está por escrever...) Turismo e lazer - S. Joanico é, talvez, uma das aldeias do Concelho, onde o lazer se torna, ou poderá tornar, mais atractivo. Para isso, é preciso criar as estruturas adequadas; quer a sua ribeira com poços de grande profundidade, alguns, autênticas piscinas naturais, os seus areais, a sua veiga, as suas sombras, quer a montanha. Nesta, é possível a caça do coelho, da lebre, da perdiz, da codorniz, da rola, da pomba torcaz, do javali... Naquela , a pesca do barbo, da tenca, da sharda e até, em tempos que já lá vão a enguia, a lampreia, o lagostim de patas brancas e “lapas”(?) Que mais agradável que usufruir das sombras dos amieiros, dos freixos, e aí fazer um bom pic-nic de que pode fazer parte o peixe que aí se pescou, dormir uma boa sesta, ou entreter-se com a família, com os amigos, conversando, caminhando, jogando... – Apareçam as infra – estruturas... A sua ponte e a sua ribeira serão, por ventura. o maior centro de atracção, seguindo-se a igreja, os dois cruzeiros e o chafariz, já fora de portas, junto ao cemitério e às antigas eiras, para as quais chamo atenção, para a sua manutenção e conservação, como fazendo parte do nosso património cultural, cujo passado não pode ser deixado de se transmitido... A Casa do Povo deve merecer também o nosso interesse: Aqui gostaria de ver o passado cultural e artístico de S. Joanico: A caixa, o bombo, os ferrinhos, a gaita de foles..., que animavam as festas e as tardes de domingos, os paus e o guarda-roupa dos pauliteiros que ao som daqueles abrilhantavam a festa de S. João. Em primeiro plano, gostaria de ver todo o acervo do tio José Ventura a que chamam "Casco", fotografias, reportagens que por ventura se tivessem feito das múltiplas representações teatrais que em S. Joanico se realizaram sobretudo o Acto de Paixão da Vida de Cristo que, apesar dos condicionalismos, não ficava atrás da célebre Aubermeragau; também uma amostra representativa dos instrumentos de trabalho cujo uso já pertence ao passado: agrícolas, de artesanato, utensílios de artes e ofícios, tudo o que dignificou e enobreceu a vida dos que nos precederam e hoje nos orgulham. A nora, os moinhos de água seriam outros centros de interesse se ainda existissem... Toda a verdura e a arborização envolventes, bem como a vida que lhes dá som, musicalidade e animação. Quem me dera reviver o matraquilhar ensurdecedor das cegonhas no cimo dos olmos que, apesar de abundantes não eram suficientes para os seus ninhos...Hoje, infelizmente, já nem estes nem aquelas...Só este espectáculo era o suficiente para se ir a S. Joanico...
S. Joanico, pela sua situação natural, está dividida em duas margens, em relação ao rio: a da direita e da esquerda, a par uma da outra; nem mais a montante ,nem mais a jusante. Mas nem por isso, vez alguma deixou de ser una. Várias são as circunstâncias que para tal contribuem. Em primeiro lugar, o próprio modo de ser das suas gentes; em segundo, a sua ponte; de seguida, alguns espaços de ordem comunitária e social; duma margem, a igreja, o cemitério; da outra, saída e entrada para e de Vimioso, de ambas as margens, as terras, as hortas, os lameiros, as eiras... Os melhoramentos que houve ao longo dos tempos, a nível da habitação, fizeram-se dentro do perímetro já habitado. À época, S. Joanico, tal como as outras aldeias, era uma aldeia cheia como um ovo. Foi esvaziando-se nas décadas de 50 e 60; antes, para o Brasil e, depois, para França e para outros países. A partir daí, S. Joanico cresceu, alargou-se para poente, para o lado de Cabanas, em frente, à ponte, no local onde era uma das eiras, oferecendo a S. Joanico uma porta de entrada e de saída condignas. Este crescimento foi tal que, quando se perguntava por S. Joanico, a resposta era: “S.Joanico, agora, é uma cidade”. Mas se S. Joanico cresceu fisicamente, humanamente continua vazia... A história de S. Joanico continua a ser escrita e vivida pelos seus filhos: uns aqui; outros, espalhados pelos cinco Continentes. Mas todos unidos, passando a nossa ponte, entrando na nossa igreja e ajoelhando-nos diante do nosso sacrário, sob a protecção do nosso Padroeiro, S. João Baptista.
ORAGO: S. João Baptista, 29 de Agosto.
POSTAL ROTEIRO ILUSTRADO DE SÃO JOANICO Poucos são os mapas que, em si, assinalam São Joanico. Compreendia-se há quinze, vinte anos, para onde o acesso era, de facto, muito difícil. Não já hoje. Felizmente, tem bons e fáceis acessos, quer quem vem de Vimioso, Concelho a que pertence, e de Bragança quer quem vem de Miranda, por Caçarelhos, estrada de Angueira ou por esta, de Espanha.
Quem vem de Vimioso ou de Vale de Frades, cem metros mais ou menos antes das primeiras casas, passará, sem se aperceber, porque nada tem que o identifique, por um local histórico, o segundo mais importante, para a história de São Joanico, chamado Cabanas, onde os judeus estiveram acampados, durante três anos, após serem expulsos de Espanha pelo Reis Católicos.( Será atrevimento histórico, afirmar que o ex-libris de Mirandela- as tabafeias – alheiras- irradiaram aqui os seus primeiros aromas?...)” Em S. Joanico, no lugar de Cabanas, assentaram arraiais os judeus, durante três anos, aquando da sua expulsão de Espanha, até obterem autorização de El-Rei para se fixarem em Portugal.” Logo à entrada, temos a parte nova da aldeia, a partir da década de sessenta, no local de uma das duas eiras do povo, airosa, acolhedora, com acesso directo ao ex- libris de S. Joanico- a sua ponte. Uma vez em São Joanico, poderá aquecer-se ou refrescar-se, conforme a estação do ano no Café Lagostim, que fica logo à entrada na parte nova da aldeia e confortar-se com a simpatia e acolhimento do casal seu proprietário. Enquanto vai dar volta à aldeia, poderá mandar preparar, além dos sabores típicos da região, o sabor típico da terra – uns peixinhos da ribeira, pescados pelo senhor José Saias e preparados pelo tempero da esposa, a sra. Prudência. Na volta pela aldeia, procure cumprimentar as pessoas, sorrir, pedir informações e verá que gente simpática...
Logo adiante, estende-se a ponte que, apesar de mal tratada, se abre,
acolhedora, à sua frente, para o (a) passar para o outro lado. É quase milenar
a sua história. É uma ponte de cantaria, medieval, de estilo românico, integrada
no antigo caminho que de Angueira se dirigia para Vimioso, “ de cantaria, para
passagem da antiga estrada de Bragança a Miranda.”É considerada pelo IPA
monumento património nacional, inscrito Nº. IPA:0411120006. “É propriedade
pública municipal. Foi reconstruída em 1778 e sofreu uma intervenção em 1994
pela CMV.- obras de reparação da ponte, ficando muito descaracterizada. “ O seu
pavimento encontra-se muito alterado, já não conservando qualquer laje, sendo
constituída por paralelos ... Dos dois lados da ponte, marcando a sua entrada,
encontram-se quatro coruchéus, assentes em pilastras, das quais três se
encontram derrubados...( Como é possível?)... Na margem esquerda, foi
posteriormente sobreposto um painel de azulejos com a imagem de S.João Baptista Mesmo assim, meste Monumento Nacionaerece a sua visita e a sua contemplação artística pela obra que é e a sua admiração
repulsiva pelo modo como está l
Pare, um pouco no meio da ponte e banhe os seus olhos a montante e a jusante; olhe em seu redor e repare no enquadramento em que a aldeia se encontra. Prossiga e, mais à frente, encontrará o centro da aldeia: o largo, o cruzeiro, algumas casas que chamarão a sua atenção: as entradas, as portas, as varandas, as portas de janela; numa delas, já fora do largo, à frente, do lado esquerdo, um forno típico de fazer pão; repare também para o material quer do forno, quer das paredes. Quer esta, quer aquele bem mereciam a atenção da preservação e da conservação... Do lado esquerdo, verá logo a Igreja paroquial do séc.
XVIII, de 1786...Também já sofreu várias obras de conservação, de restauro e até
alterações no exterior- da porta lateral até ao campanário, houve, não sei se de
origem, uma escadaria em pedra. Entre..., Aqui há uma saída para Angueira, Espanha e Caçarelhos. Volte para trás. A seguir à Igreja, do lado esquerdo, repare numas casinhas baixas, nos seus portais, nas suas portas, particularmente, numa, que foi no passado, durante muitos anos a Escola de São Joanico, aos cuidados da nossa saudosa Professora, Sra. Da. Albertina Miranda. Hoje, S. Joanico tem uma escola nova do outro lado da ribeira, frente à ponte.(Veja foto anterior) De novo no largo, corte à esquerda. São Joanico tem, actualmente, muitas portas fechadas que, no passado, estiveram escancaradas ao trabalho, ao convívio, à colaboração, ao lazer: as fráguas, as carpintarias, as barbearias, as tabernas, as sapatarias, as alfaiatarias, o açougue...Tem também espaços abertos, mas fechados ao esquecimento, abandonados ao desleixo e que foram, ainda mais que aqueles, locais de trabalho duro, de convívio, de ajuda mútuos e comunitários, de zangas e de discussões, de reinação e de conforto, de conflitos e de concórdias, de guerras e apaziguamentos, de solidariedade, de amores e desamores, e até de cumplicidade e porque não de convivência entre o trabalho do irracional com o do racional . Refiro-me às eiras, as da margem direita, e as da esquerda que, no Verão, eram autêntico enxame, sob uma única tampa - o sol escaldante- onde, havendo várias rainhas, pobres, ricas e até carenciadas, trabalhavam todas animadas pelo mesmo espírito de amealhar mútuo mas em colaboração e entre ajuda comunitários. As da margem direita têm em seu seio, primeiro a escola, depois, aparte nova de São Joanico que hoje lhe servem de entrada. As da margem esquerda, embora bastante afastadas da aldeia, bem merecem a sua visita. É só continuar em frente; aí, a cem metros encontra uma subida. Mais ou menos a meio, tem do lado esquerdo, o cemitério que também sofreu a invasão do mármore nos últimos tempos, merece o seu olhar atento; é relativamente novo, de......mas já foi acrescentado. Veio transferido do lado esquerdo da Igreja, de que já lhe falei. Repare que está bem arranjado e que os vivos não esquecem aqueles de quem receberam a herança quer da sua vida quer a da terra... Do lado esquerdo, quase em frente tem a outra razão
porque o convidei a vir até aqui. Repare nesse chafariz,
Espraie os seus olhos por essa encosta verdejante, vazia, muda, parada...Quem não viu, no passado não compreenderá estes adjectivos; não imaginará o movimento, a agitação e até o que hoje chamamos stresse: pessoas, animais, carros, trilhos, espalhadeiras...Ninguém jamais ouvirá os cumprimentos, as conversas e as desconversas, os chamados à distância, os ralhos, as gargalhadas, os choros das crianças, as discussões, as pragas, as palavrinhas e os palavrões; as imprecações, as bênçãos, as maldições e as orações, os impropérios; as cantigas, os cantares ao desafio- “quero-me ir e vou mas não sei para onde....” o chiar dos carros, as vozes dos animas pelo cansaço, pela fome, pela sede, porque os filhotes estão à espera da mamada. Ninguém pode ver o que os nossos olhos viram: as centenas de parvas, de bornais, autênticas visões das pirâmides do Egipto; ninguém sentirá o que aquelas gentes sentiram: a apreensão duma chuvada repentina e o frenesim que provocava para pôr à prova a destreza, a solidariedade e, de repente, transformar em muros o que antes era plano; sentir a emoção do fecho do mó, do ensacar, da sinfonia, do coro alegre e festivo do cantar, do assobiar das pessoas com o chiar dos carros, agora já na descida a caminho de casa, da tulha, onde se guarda o grão que será a fartura da mesa, a alegria da família e também dos animais que o ajudaram a fazer, durante o ano todo. Como eu gostava de ver aí, se não os gestos e de ouvir, se não as vozes, as falas, e de cheirar, se não a palha, os animais, as pessoas, ao menos o cenário: os bornais, as parvas, os mós, os trilhos, que serviam de cenário onde pessoas e animais representavam os sus papéis em mútua harmonia, respeito e colaboração, como qualquer representação teatral exige, bem como o guarda roupa e os instrumentos de trabalho: as esplhadeiras, as pás, os vardeiros, até os aparadores, os sacos, o alqueire, o razeiro... que também faziam parte da representação. A Transmissão desta cultura também faz parte do Curso Universitário que queremos dar aos nossos filhos... Julgo que o culto e a transmissão dos valores deste espaço ainda não passou pela consciência de nenhuma aldeia transmontana. Gosto de ver, quando passo por uma terra de pescadores o barco, a rede e outros objectos desta arte, bem patentes junto ao mar, ou nas praças pincipais.
Volte para trás; os seus peixinhos já estão à sua espera; compense na descida as energias que gastou na subida. À medida que vai passando cumprimente as pessoas, diga-lhes qualquer coisa a propósito do momento e verá a simpatia, a familiaridade delas...O Caminho de regresso é o mesmo; após atravessar a ponte, vai notar que ainda lhe falta por visitar outra metade de S. Joanico. Corte à esquerda, um grande largo; no meio um cruzeiro, uma bica com água e um bebedoiro para os animais. Em volta, casas; repare numa que fica à sua esquerda: es escadas exteriores e a varanda de cantaria e julgo que portas com janela. Junto dessa casa, repare numa fonte de mergulho que nos mergulha num tempo bem distante...Daí, os nossos avós mataram a sede. Para além de irem buscar água, quantos outros pretextos para irem `a, ou até à fonte...encontros de namorados: “digades, filha minha, minha filha velida porque tardastes na fontana fria?” Levar e trazer as notícias, as novidades da terra- as alegres e as tristes; as pessoais e as alheias... Do lado direito, encontra-se a Casa do Povo. Quem me dera que aí encontrasse o que já deu vida àqueles lugares quer fechados, quer abertos de que atrás falei; os objectos e instrumentos de trabalho, de lazer e de cultura: o espólio teatral do tio José Ventura; a Caixa e o bombo do tio José Padrão, a gaita de foles do tio Joaquim Curralo- Se
eu morrer, ao ceu hei'dir-me Subamos ao Café Lagostim, onde os seus peixinhos e as surpresas gastronómicas do casal proprietário nos esperam com simpatia.... ............................ (Para continuar e receber correcções e colaboração para: samf@oninet.pt )
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